Imagem oficial da degola do bando de Lampião (1938)
“Quando vi pela primeira vez a emblemática fotografia das cabeças decepadas do bando de lampião, muitos detalhes me passaram despercebidos. Foi preciso outros encontros com a imagem, e um olhar mais atento, para que o detalhe mais interessante fosse revelado: as duas máquinas de costura nos cantos superiores da fotografia. Uma imagem carregada de simbolismo, que diz muito sobre a realidade da época.
No sertão da primeira metade do século XX, a máquina de costura tinha a importância que a televisão tem nos lares de hoje. O modelo Singer que aparece na foto, era o sonho de consumo das donas de casa. O sertão fechado, terreno inóspito, de chão rachado e tapetes de macambira, era o que os cangaceiros tinham para chamar de lar. E era onde se costurava, bordava e adornava.
A Singer vestia o cangaceiro para o combate, a criança para o batismo e a noiva para o altar. Cobria a viúva com o luto, e as moças com o colorido da chita. Marcava períodos, fazendo bermudas (que se chamavam calças curtas) para os meninos, e calças compridas para os homens. Coisas de um tempo em que ostentar o luxo de comprar roupas prontas, trazidas de fora, era coisa para pouquíssimos.
A estética do sertão é a estética da resistência. Da roupa usada até a fibra do algodão virar farelo. Do couro forjado em vestes para aguentar o peso da lida. Do vaqueiro com ares de cavaleiro medieval – não para se proteger de lanças de guerra, mas dos afiados espinhos da caatinga. Do aproveitar tudo até a última gota…”
O texto entre aspas é parte de um artigo que escrevi para a Revista Preá – a revista de cultura da Fundação José Augusto – sobre a moda e a estética do sertão.
A edição que será lançada hoje (28) em Mossoró, é norteada pelo tema Mar & Sertão.
O texto que escrevi tem minhas impressões pessoais sobre o tema, entrevistas com algumas pessoas – entre elas a figurinista da novela Cordel Encantado – e um pequeno histórico da influência do sertão sobre a moda brasileira.
Quando souber do lançamento em Natal e onde a revista estará disponível, aviso aqui. 😀
Parabéns pelo post! Acho importantíssima essa valorização dessa nossa identidade tão peculiar. O Nordeste é mesmo uma fonte de inspiração em muitos aspectos, e com a moda não seria diferente. Obrigada!
Muito bacana o texto, Gladis, Parabéns…
Meu avô (avô msmo, não digitei errado nao hehehe) até hoje costura numa máquina singer IGUAL a essa da foto! Ele cuida dela como um filho… é uma identidade, um membro que já ta na familia há, sei la, uns 40 anos ou mais…
Eu queria saer costurar… teho esse desejo que um dia realizarei!
Belíssimo texto. Parabéns pelo trabalho. bjo
Gladis você escreve muito bem! Nesse texto você mostra o outro do lado do cangaço: a construção de sua estética. Há um livro que toca nesse assunto, você deve conhecer, “A Estética do Cangaço”, de Frederico Pernambucano de Melo. Para quem não conhece fica a dica.
Abraço
Muito bom, garota! Parabéns, fiquei com vontade de ler o resto. Beijos
Deu muita vontade de ler tudo. Quem está em Recife faz como para ler?
Abs,
Oi renata! fica em contato que quando eu puser as mãos nas revistas pego seu endereço pra mandar uma pra você. Mas também vou publicar o texto completo aqui no blog depois =) bj!
Amiga!? belobelobelobelo.. a maquina singer…lembro-me que minha mãe chorou, quando meu pai trocou por uma mais nova..ela tinha razão do seu valor. parabens amiga! vc encanta nas entrelinhas..e vc fará a narrativa do meu projeto “Noiva em Sertão” te esperando para abraça-la! bjo
Fiquei com vontade de ler mais!!! Adoro estética do sertão e a da novela estava linda! Parabéns pelo texto. 😉