Pochete ressurge das trevas e aparece na semana de moda de Milão

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Estava eu bem descansada vendo o Pop in Rio na TV e olhando as fotos da semana de moda de Milão na internet, quando me deparo com as imagens do desfile da Emporio Armani, e…

OH WAIT! as modelos estavam usando pochetes!

Emporio Armani, verão 2012

Fui ler mais sobre a coleção e descobri que as pochetes não eram truque de stylist, nem nada. Elas são parte da coleção e estão à venda – já com fila de espera!

E aí, o que nós vamos fazer pra salvar o mundo de uma nova geração de pocheteiros?

Uma tragédia se avizinha, e vocês aí preocupados com a fome na África!

Isso acabou me lembrando um texto de Marlos Ápyus (grande pequeno visionário) para a revista Salto Agulha, que agora publico aqui. Divirtam-se:

“Pochete, pra que te quero?

No bolso de trás, a carteira. No outro bolso de trás, um estojo com lápis, caneta, etc. Nos da frente, um celular, as chaves de casa e duas barras de cereais que levava para suportar parte das 8 horas de aula que estava por enfrentar. Assim rumava eu dia após dia para meu colégio. Se meu celular descarregasse, já era. Escovar os dentes após o intervalo? Nem pensar. Sentar com tanta tralha enfiada em minha calça? Uma dificuldade.

Anos antes lera eu uma matéria bem afetada na revista Veja. Num tom que fugia da sobriedade tão comum àquela publicação que ainda era levada a sério nos anos noventa. Condenava a pochete à morte. Lembro de uma comparação feita com cangurus e a bolsa que trazem na barriga. Até então, desconhecia eu essa ojeriza a este artefato.

Como adorava cangurus (eles lutam boxe), solenemente ignorei a lembrança. Comprei uma pochete. De uma marca cujo nome remetia a algum personagem dos Thudercats (Pantro, Tiger, Willy-Kit, não lembro). Com trava de segurança contra roubos e tudo. Foi quando, mais que de repente, pude sentar sem temer pela saúde da costura da minha calça. Se meu celular descarregava, logo puxava o carregador. Se comia um pastel no intervalo, encontrava dentro dela uma mini escova de dentes com uma mini pasta de dente para garantir minha proteção contra as cáries. Até Liqüid Paper comprei. Enfim… Sentia-me o próprio Batman com seu cinto de utilidades à mão.

Mas nem tudo eram flores. Logo no primeiro assalto, tive dificuldades com a trava de segurança. O bandido achou que tentava eu puxar uma arma para me defender, e chutou-me na cabeça. Quando recobrei a consciência, descobri que ele tirara minha carteira e largara a pochete no chão. Ufa! Menos mal.

Mas o mais triste era tornar-se “o cara da pochete”. Sabe Marlos? Não. Aquele que é músico? Não. Aquele que é web designer? Não. Aquele que vive de pochete? Ah, sei quem é.

O problema é que, aparentemente, todas as mulheres leram a tal matéria da Veja. E, também aparentemente, não gostam de boxe. No máximo, acham Rocky, o primeiro, mas somente o primeiro, um filme bonitinho. Foi quando passei cinco anos ouvindo as mais estúpidas desculpas ao praticar a arte da sedução. Desde o mais comum “acho que deveríamos apenas ser bons amigos”; passando pelo mentiroso “estou querendo dedicar-me exclusivamente aos estudos”; e culminando em atos de puro desespero como “a cartomante falou que nós não deveríamos nos envolver” – Juro! Isso realmente existiu.

Um dia, preparava-me para mais uma balada. Olhei-me no espelho. Não entendia como a vida funcionava. Discriminação por causa da minha classe? Minha cor? Fiquei cansado de tentar achar resposta: abdiquei do meu cinto de utilidades. Carteira num bolso, chaves e celular no outro. Parti. No dia seguinte receberia a ligação da mulher da minha vida. Dizendo que adorou me conhecer na noite anterior. Que queria sair para jantar. Saímos. Casei-me com ela dois anos depois.

Hoje não mais estamos juntos. Mas foi eterno enquanto durou. Ou apenas até descobrir que o homem sai da pochete, mas a pochete não sai do homem. Depois do divórcio consumado, olhei-me novamente no espelho. A pochete voltara sem que eu percebesse. Estava lá. Em couro legítimo. Por sob a minha pele. Mas sem carregador de celular, escova de dente, gaita. Só gordura acumulada após tantos fins de semana regados a DVDs e pecados culinários. Emagrecer é preciso. Viver não é preciso.

Mas isso é outra história.”



Comentários

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7 Comments

  1. Isa says:

    kkkkkkkk Adorei…Tenho esse preconceito com pochete tb.
    Mas não vou mentir que há tempos procuro uma cartucheira (tipo pochete feminina) para ir para festas de rua. Super prática. Ainda não achei…quem souber aonde eu acho..avisaí… bjo

  2. manu says:

    Oh, my gosh! Pelo menos é para mulheres, que costumam ter um pouco mais de bom senso. Espero que a modinha não contamine novamente os rapazes, como se não bastasse a famigerada gola V.

  3. Mônica Alcântara says:

    Essa moda é só pra Bianor mesmo!

  4. kenia says:

    Quando as grifes querem forçar uma tendência, elas conseguem. E o que vai ter de “bem nascida” desfilando com o acessório por aí…mal posso esperar para abrir o blog da Lalá Rudge e ver uma foto dela de pochete!

  5. Ellen says:

    huauhauhauhauhauhahuauha Gente, muito bom o texto!!!!!

  6. Angelina Cavalcante says:

    kkkkkkkkkkk!
    Eu amei esse texto, bem divertido e criativo! 😛
    Mas pochete é realmente algo que me dá aflição, como diz minha personagem teatral favorita, a encalhada de Cócegas. (:
    Amigo, recomendo mochila, bolsa tipo carteiro e até calças cargo, mas pochete nunca. 😛

  7. Leo says:

    Texto bem criativo. Eu uso pochete de couro há uns 18 anos. Logo que elas apareceram por aqui. Não me importo com que os outros pensam ou deixam de pensar. Nenhuma das minhas muitas namoradas reclamaram deste artefato, e se reclamassem, não iria fazer diferença. Não mudo meu jeito pra conquistar mulher nenhuma. Hoje sou casado, tenho uma filha maravilhosa, e…a pochete continua sendo usada…

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