A importância do figurino na Sétima Arte

As luzes se apagam, os expectadores se acomodam nas poltronas da maneira mais confortável possível. O cheiro de pipoca toma conta da sala de projeção, e as imagens começam a aparecer na tela. De repente, uma coisa começa a chamar a atenção de todos. O filme se passa na Idade Média, conta a historia de um rei sanguinário que é derrotado por um herói popular. Mas, pasme! O tal herói veste jeans e camiseta. Susto maior, só quando entra em cena um soldado medieval calçando um all star, e uma das princesas está de minissaia.

Estranho não é? Pois seria exatamente assim se não houvesse uma peça importante no processo cinematográfico: o figurino. O que os atores vão vestir é fundamental para caracterizar – dentre outras coisas – a época e o local em que a história se passa. Por este motivo, moda e cinema sempre andaram de mãos dadas.

Com o fascínio que a sétima arte exerce sobre as pessoas, os figurinos passaram a ser copiados e adaptados para a realidade das platéias, fazendo com que o cinema seja também um criador de tendências. Quem não se lembra da famosa cena de Marylin Monroe no filme O Pecado Mora ao Lado, quando ela tentar conter o esvoaçante vestido branco? Aquela cena aconteceu em 1955, mas até hoje mulheres do mundo inteiro copiam o vestido que transformou a loira no maior símbolo sexual de todos os tempos.

Como tudo começa…

Quando uma história vai ser levada às telas do cinema, dentro do universo de coisas que o diretor precisa pensar para fazer um bom trabalho, ele dá uma importância especial ao figurino. Para a jornalista e assistente de figurino Sarina Sena (foto), este cuidado é essencial e interfere até no desempenho dos atores.

foto_sarina “O figurino tem um peso importantíssimo na concepção geral do filme, pois é através dele que o ator vai se encontrar de fato com o personagem. É através dele que o ator vai conseguir passar para a platéia quem ele é, pois sem o figurino, descaracterizado, ele é o ator fulano de tal. Ele só se transforma no personagem, e consegue passar isso como uma verdade para o público quando está vestido como tal”.

O primeiro passo para a elaboração de um figurino é a leitura do roteiro. Depois que os personagens estão identificados, é observado o contexto em que estão inseridos e a época em que vivem, para que se possa começar a fazer as pesquisas para montagem dos figurinos. O figurinista faz parte do departamento de arte do filme, por isso tem que estar em harmonia com toda a concepção visual da película, do cenário à fotografia.

O cinema procura se aproximar o máximo possível da realidade, por isso o trabalho dos figurinistas é puxado. Para uma roupa “funcionar” dentro do contexto do filme, ela precisa ser bonita, sem chamar demais a atenção, sem destoar do conjunto visual. Para conseguir este resultado, a pesquisa é fundamental. “A gente vasculha todas as informações possíveis sobre o personagem. Buscamos referência em fotos, internet, livros, revistas – onde mais pudermos – e montamos uma pasta para o personagem com essas informações. Então é feita uma reunião com o diretor de arte e mostram-se as pastas com as fotos que são referências dos personagens. Se ele aprovar, começamos a fazer as roupas ou comprar seguindo essa linha. Se não aprovar, é feita uma nova pesquisa”, explica Sarina.

A partir dessas referências, os figurinos são feitos. As roupas são garimpadas em bazares, brechós, lojas, ou manda-se fazer especialmente para o filme. No cinema é necessário ainda o cuidado de “envelhecer” as roupas artesanalmente para que elas percam a “cara de roupa nova”, pois roupa com jeito de recém-saída da loja, não fica bem nas telas, não transmite naturalidade. Para isso os figurinistas fazem lavagens, lixam as peças, e usam todo tipo de truque.

Depois de todo esse trabalho, você pode até pensar que é só vestir a roupa e filmar. Mas é aí que vem a parte mais cansativa: as provas de roupas. Quando as roupas estão prontas os atores têm que prová-las para ver a funcionalidade do que estão vestindo e se lhes caiu bem, se causou o efeito que o figurinista esperava. “Essa parte é cansativa porque às vezes uma coisa que o figurinista imaginou não deu certo no ator, e é preciso buscar alternativas. Além disso, se o ator tem cinco figurinos no filme, para cada figurino desse são provadas três ou quatro roupas, o que leva algum tempo, fazendo com que esse processo seja cansativo e um pouco desgastante, mas de extrema importância”.

Agora sim, com tudo devidamente provado e aprovado, inclusive pelo diretor do filme, é hora de vestir o figurino e gravar. A responsabilidade não é pequena, já que meses depois, muita gente estará vestindo o que viram nas telas.

E o figurino de cinema que mais me marcou foi…

foto_tereza Tereza Ratts (Gerente de Marketing)
Titanic. Marcante pela primorosidade dos detalhes, as roupas, jóias, a maquiagem que a época era disponível às mulheres foi acompanhada. Ao serem feitos os croquis, houve a preocupação de como os tecidos e as belíssimas roupas de festa (era festa na hora em que o navio naufragou) reagiriam ao aparecerem encharcados ou boiando em uma sala, cobrindo o corpo inerte de um “morto” flutuando. As roupas dos Ingleses, a diferença entre os novaiorquinos (ricos e/ou pobres) – lembrando de Jack Dawson, personagem de Dicaprio. Tudo isso casando perfeitamente com a reconstituição minuciosa do cenário e objetos de cena. Isso se não nos lembrarmos da parte tecnológica do filme para obter as imagens do navio… Quem acompanhou à época os bastidores do filme, encantou-se com a quantidade de detalhes mostrados explicados e justificados dos croquís dos figurinos. Uma aula de história da moda.

foto_laura Laura Ciarline (Historiadora)
Hamlet de Keneth Bragnant porque nunca se tinha pensado Shakespeare no século XVIII de maneira tão militar. O figurino estava clássico, sem ostentação.

foto_rafael Raphael Bender (Músico)
Buena Vista Social Club. Apesar de se tratar de um documentário, os vestuários dos artistas cubanos mostrados no filme são impossíveis de passar despercebido. Em especial as roupas usadas por Omara Portuondo e por Compay Segundo. Os penteados, os chapéus e os paletós coloridos são de chamar muita atenção.

foto_luanda Luanda Holanda (Jornalista)
Dois filmes têm figurinos que prenderam minha atenção. Zuzu Angel, pela beleza e elegância das roupas, apesar do filme se passar nos anos 60/70, algumas roupas eu até usaria nos dias de hoje, porque gosto do estilo retrô. Kill Bill é um filme cujo figurino marcou mesmo, chamou a atenção, aquele conjunto amarelo que Uma Thurman usou durante quase todo o filme.

foto_kauonara Kayonara Souza (produtora)
O cinema possui clássicos maravilhosos e incontestáveis com seus figurinos igualmente perfeitos. Não dá pra deixar de lembrar dos figurinos usados por grandes estrelas e que acabaram virando ícones, como E o vento levou ou Bonequinha de Luxo, mas não tem quem esqueça do figurino de Marilyn Monroe no filme O pecado mora ao lado. Podem até esquecer o nome do filme, mas daquele vestido branco e esvoaçante, de jeito nenhum! É óbvio que a cena ajuda, mas o vestido mesmo era lindo, sensual. São muitos figurinos belíssimos e que passaram pela minha cabeça, mas creio que o mais marcante é esse vestido branco de Marilyn porque foi o que eu mais desejei, durante muito tempo quis ter um igualzinho.

Fotos dos Filmes Mencionados

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4 Comments

  1. Get the look: Buena Vista Social Club » Salto Agulha says:

    […] pode ir escolhendo o figurino. Eu já escolhi o meu! Veja a matéria que citei no início do post aqui e mais fotos do Buena Vista Social Club na galeria abaixo: [View with […]

  2. Agosto é o mês da moda no Cineclube Natal! « Salto Agulha says:

    […] Acho que todo mundo que curte moda também ama cinema. Para mim pelo menos, as duas coisas são indissociáveis, e já escrevi matéria aqui para o blog sobre isso, já viram? […]

  3. valdeir gomo mes dos santos says:

    axo legau roupas de soudados

  4. Curso de Design de Figurino para Cinema e TV says:

    […] “O figurino tem um peso importantíssimo na concepção geral do filme, pois é através dele que o ator vai se encontrar de fato com o personagem.” A importancia do figurino na sétima arte […]

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