Lembranças tecidas em roupas**

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**Por Sarina Sena – jornalista potiguar pelo mundo. grande amiga. olhar sensível para a moda.

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A gente convive com isso diariamente mas muitas vezes nem nos damos conta: nossas roupas estão impregnadas de memória. Seja aquela roupa-talismã que associamos aos momentos de sorte, seja aquela mancha de chocolate que nos lembra o passeio de domingo ou até aquele rasguinho provocado por uma queda desastrosa.

 

No pequeno e muito interessante livro “O Casaco de Marx. Roupas, memória, dor”, de autoria de Peter Stallybrass, a trajetória que o casaco de Karl Marx descreve indo e vindo do corpo de seu dono à loja de penhores é refletida na obra “O Capital”. A memória que o casaco carrega e a relação do seu dono com o mesmo acabaram por gerar reflexões sobre consumo, valor dos bens de consumo e a relação deles com as pessoas.

 

No trabalho de figurino, é comum forjar “memória” às roupas dos personagens. Uma roupa nova, acabada de sair da loja, nunca tem as texturas, caimento, cores e desgastes de uma roupa já usada. Para dar realismo a uma roupa nova é que os figurinistas muitas vezes lixam, fazem pequenos furos e desbotam a cor de algumas peças. Não raro, o ator passa a vestir nos ensaios e até no seu dia-a-dia alguma peça para que ela tome a forma do seu corpo, como as dobras no joelho e o desgaste de uma barra de calça jeans, por exemplo.

 

Outro grande exemplo do valor simbólico e de memória que as peças de roupa possuem é no momento da morte de um ente querido. Para muitas pessoas, encarar o guarda-roupa de alguém que morreu é algo difícil e doloroso. Naquele momento, a roupa traz em si a imagem e o cheiro do seu antigo dono, levando muitas vezes seus parentes próximos ou não quererem entrar em contato com aquelas peças ou, por outro lado, não terem coragem de se desfazê-las.

 

Além das memórias pessoais, a roupa, aqui em sua faceta de Moda, reflete também acontecimentos de uma época. Tecidos, cortes, cores e modelos nos lembram certo período ou acontecimento histórico. Quem viveu a juventude nos anos 1980, por exemplo, vai se lembrar de bandas, festas, músicas, ídolos e tantas outras coisas ao se deparar com uma foto de uma roupa de estilo new wave.

 

Recentemente, tivemos o caso tão comentado da morte de Isabela Nardonni. Apesar da exaustiva repercussão na mídia e muito se falar sobre a tragédia, talvez você não tenha atentado para um pequeno detalhe: uma das provas de acusação contra o pai da garota foi exatamente as marcas que a tela de proteção da janela imprimiu na camiseta dele.

 

Com a tecnologia, o futuro próximo nos promete a “memória virtual” das roupas. Sensores atrelados a chips registrarão e irão monitorar nossas funções vitais, identificando e avisando a familiares ou serviços médicos alguma irregularidade na nossa saúde.

 

 

Para saber mais:

 

– “O Casaco de Marx. Roupas, memória, dor”

Autor Peter Stallybrass

Editora: Autêntica

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http://www.defenselink.mil/news/newsarticle.aspx?id=25636

Projeto do exército americano desenvolvido em 2004, previsto para ser utilizado em 2010. Os uniformes dos soldados iriam monitorar seus sinais vitais e enviariam para as bases alerta com informações sobre o ferimento e o estado de saúde do soldado ao ser atingido em combate.

 

http://wearables.unisa.edu.au/

Projeto da University of South Australia (UniSA) de roupas inteligentes que além de monitorar as funções vitais do seu usuário ainda traz opções como ajuda na escolha de acessórios.

Comentários

Comentários

2 Comments

  1. Anorexia rules! » Salto Agulha says:

    […] Sena é  Jornalista, figurinista e produtora de moda. Aqui tem um texo dela muito bacana sobre a memória das […]

  2. Roupa com passado « Fashion Again says:

    […] pequenino mas que nos faz refletir sobre como as roupas podem carregar tantas memórias. Já escrevi sobre ele num texto para o blog Salto Agulha, da minha amiga Gladis Vivane, na época em que eu ainda não […]

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