*Texto originalmente publicado na Revista Versailles. É a versão bem humorada de uma situação dramática. Historinha real viu meninas?

Sabe aquele samba famoso, dos versos “com que roupa eu vou/ pro samba que você me convidou”? Pois bem. Se até o poeta Noel Rosa viveu um momento dilema-fashion, quem sou eu para escapar ilesa da dúvida na hora de escolher o modelito perfeito, para uma ocasião especial?
Toda mulher, em algum (s) momento (s) da vida passa por isso. Agora imaginem uma jornalista apaixonada por moda, tentando escolher o que vestir na noite de lançamento da revista que idealizou, escreveu e editou. Uma revista de… moda, é claro!
Essa era eu, o retrato do desespero, às vésperas do lançamento da minha revista, sem roupa para usar na Grande Noite.
Durante meses escolhi roupas para as fotos dos editoriais, dirigi fotógrafos, modelos e maquiadores, coordenei a diagramação, editei textos, escrevi, escrevi e escrevi. Mas só depois, com a revista já em mãos, é que lembrei que em poucos dias haveria o lançamento. O momento de mostrar a publicação ao mundo – ou aos meus convidados, o que já era um pedaço importante do meu mundo. E nessa hora pensei que o figurino daquela noite tinha que ser muito especial.
Aí começou meu calvário. Com pouco mais de um par de dias para encontrar um modelo absolutamente fabuloso, peregrinei sem sucesso pelas lojas da cidade. Até que um dia Ele me encontrou. O vestido. Enquanto eu pagava o ticket do estacionamento em um shopping, senti que me olhava, e olhei de volta. Era lindo. Leve, longo, colorido, alegre, volume discreto nas mangas, de corte império e com um longo decote nas costas. Quando nossos olhares se cruzaram, lembro de ter visto uma brisa sacudir levemente seu tecido, num balanço romântico e irresistível. Mas aí posso estar fantasiando, já que acabei de me dar conta de que os shoppings são caixas de concreto com ar refrigerado, e nenhuma brisa corre ali. Mas ok, me deixem romantizar o momento.
Caminhei hipnotizada até Ele, e pedi para provar. Aí meu mundo veio abaixo. Com uma indiferença gélida à história de amor que começava ali, a vendedora – com aquela entonação na voz que só elas têm – sentenciou: “Onlhan, é peçan únican, não podje tirar da vitrineam”.
Oi?! Que espécie de loja expõe algo que não pode ser nosso? Que nos conquista, mas não está disponível? Achei um absurdo. Argumentei, implorei, expliquei a situação, disse que estava apaixonada, me prontifiquei a pagar a mais pelo vestido, ofereci propina… e nada! Nada a fez mudar de ideia!
Mas havia uma luz no fim do túnel. A vitrine seria trocada no dia seguinte, mesmo dia da minha festa. Era arriscado esperar, melhor seria comprar logo outro. E se não vestisse bem? Ora, se Ele não me servisse, não teria me paquerado daquele jeito! A vendedora ficou de me ligar no dia seguinte – quando trocasse a vitrine – e resolvi esperar.
Como ela não ligou, liguei eu. Do outro lado da linha: “tiramox da vitrineam, podje vir provar”. Aleluia! Como eu esperava, ficou perfeito. Feito para mim. Quando nos tocamos – eu e o vestido – nossa paixão foi confirmada. Já me dirigia ao caixa para pagar, quando a vendedora fez meu mundo cair pela segunda vez, e dessa vez sem possibilidade de levantar: “não podje levar, porque tem maix cinco pessoans na fila dje esperan pra provar o vestidon”. Naquela hora eu entendi porque as chacinas acontecem, e vocês já devem imaginar qual era o meu desejo, né?
Achei que seria muita humilhação passar o dia na loja esperando mais cinco pessoas provarem o vestido, até porque eu nem poderia fazer isso. Em poucas horas tinha que estar na minha festa. Olhei pela última vez para o meu vestido, ergui a cabeça, torci para que nenhuma das outras clientes efetuasse a compra e a loja amargasse aquele prejuízo pra sempre, e fui embora. Não foi a minha primeira história de amor não concretizada, e não seria a última. Como sempre, eu sobreviveria.
Entrei em outra loja e comprei o primeiro vestido que me caiu bem. A vendedora desta segunda loja não parava de me fazer “elogios de vendedora”, aqueles tão verdadeiros quanto uma nota de duzentos reais. Quis atirar nela também. Uma vítima a mais para a minha chacina.
Segui em frente. Meu mau humor persistiu até o local do lançamento. Mas foi só colocar meus pés lá dentro, que tudo mudou. As revistas empilhadinhas e espalhadas pelo salão, fizeram meu olho brilhar. Todos os meus amigos estavam lá, e muita gente que nem conheço também estava. Outro tanto de gente que admiro se derramava em elogios à revista. Gente exigente, que não estava ali somente para agradar. Tudo foi maravilhoso. Um dos dias mais felizes da minha vida, perdendo só para o nascimento do meu filho. Opa, eu não tenho filhos! Então foi O dia mais feliz da minha vida. Primeiríssimo lugar.
E então eu aprendi uma lição que quero compartilhar com vocês, que estão sempre à procura de vestidos especiais para festas maravilhosas: É só roupa gente. É só linha e tecido. A festa vai ser perfeita se tiver que ser, independente do pano que te cobre.
Adorei, Gladis !!! Eu costumo andar com um caderninho dentro da carteira (detesto anotar coisas no celular), porque quando vem uma ideia já dou uma anotada. Não deixe estas coisas morrerem sem registro 😉 Beijão, coisa linda!
Adorei o post! E aconteceu comigo tbm! =)
Muito legal a forma como expôs o seu drama, haha! Para nós mulheres a roupa é quase uma segunda pele e se a gente deixar isso subir a cabeça, acaba cometendo uma chacina mesmo, hehe. Tão bom ver a sua descrição da noite em que realizou o seu sonho, pena que não pude prestigiar tão evento. Estou aguardadno ansiosamente o próximo número! ^^
Bjoks
Há um conto do escritor francês Guy de Maupassant que fala numa granfina, da alta sociedade, conhecida pelas ricas e elegantes toaletes que usava nas festas. Ia haver um baile, com a presença de uma mulher riquíssima e ditadora da moda, e ela queria impressionar a tal mulher e arrasar num vestido novo. O marido estava com a grana curta e sugeriu que ela vendesse um dos seus vestidos de festa mais demodês em um brechó, para complementar o custo do vestido novo. Ela assim o fez. E quando entrou no baile viu a ditadora da moda, elegantíssima e cercada de atenções, usando o velho vestido que ela havia vendido no brechó…
Já q vc nao disse a loja infame deixa q a gente entrega nos comentários ne?
PORRA, FARM!
E ai? Ja viu seu vestidonnn numa foto do Bobfresh? :S
Ah, e seu Dress to usado na festa tava lindão!
Autonomia é isso: cair de paixão pela bobagem que for, mas nunca deixar que ela seja maior que gente. Só porque a gente PODE!
Adorei a seção ‘ria da minha vida, antes que eu ria da sua’!
Isso foi na farm, né? Já passei por isso. As vendedoras são chatas e a loja tem essa política ridícula em relação à vitrine.
Alô, FARM: Graças a essa política bizarra de vocês, eu e Gladis estamos merecendo ganhar vestidos novos! Hahaha
=*
Desse mal eu não padeço Gladis. Se gosto do vestido, tiro a foto e peço pra titia fazer pra mim. Cabou-se o sofrimento! rsrss
Nossa! Simplesmente, AMEI O TEXTO! Parabéns Gladis, ficou muito bom. Acho que todas as mulheres já passaram por uma situação parecida.
A.D.O.R.E.I. torne seu hábido em momentos de prazer! Tem uma frase que sempre repito: “Sem me preocupar se virá o tombo ou o voo… Eu sei que vou”.
ps.: a FARM (rídiculo essa postura) fez isso comigo semana passada, só q ñ era um vestido e sim a bolsa feita pra ele. ODIO MORTAL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Sou sua fã!
Rsrsrs
Massa!
Espero pelo dia do autoatendimento nas lojas de roupa. Quando entro em uma els logo me olham com cara de “não temos nada que sirva em você”. Aponte a arma pra elas que eu aperto o gatilho!
kkkkk
Que texto delicioso, Gladis!
Como nós mulheres sofremos, são tantas desilusões e amores platônicos fashion, não? rs
Já me apaixonei por uns tênis, foi amor à primeira vista, porém não o quis logo de primeira, fiz aquele charminho, sabe, pra não dar bandeira? Quando voltei dois dias depois pra levá-lo comigo, procurei por todo lado, fui desesperada até a vendedora e a “maledita” me disse com um sorriso venenoso que ele tinha sido levado por não ter tido saída…uma frustração que carrego comigo até hoje…como eu queria aqueles tênis. Fazer o quê, né? A vida continua…era só um tênis…mas eu queria muitooooooo! lol
Ótimo texto, Gladis, crônica de primeiríssima qualidade. Parabéns pela qualidade do blog. Abração.
Mas perai…Essa é a coisa mais ridícula que ja escutei..Uma loja que não vendeu o vestido pq tinha gente esperando pra provar??? Não posso conceber algo assim!!!! Pela atitude da loja, erradíssima, não pq fosse o ultimo vestido da face da terra.
Não poder tirar o vestido da vitrine pq é o único? Isso é muito ridículo, não tem a menor lógica!
Seu texto é fabuloso. E a moral da história melhor ainda. Menina talentosa e pé no chão. É isso aí. Pegando carona no Ítalo Calvino: “é preciso ter asas nos calcanhares”. É isso que eu vejo nesse texto.
Amei o texto! Saudades!
Lindo texto!
Mas fiquei mesmo impressionada com a loja. Que coisa ridícula! Não deixar provar um vestido e deixar de vender porque tem gente na fila pra provar! Meu deus…
Ah, e como disseram que é a Farm, é lá que tem um preço na etiqueta para o Rio de janeiro e outro para os mortais? Meu Deus, que economia deselegante de etiquetas…Por que elas não fazem etiquetas diferenciadas? Uma vez até que eu gostei de uma blusa lá, mas não comprei porque fiquei puta em pagar mais caro do que os cariocas! Claro que eu sei que isso se justifica pela distância, claro que eu sei que pago frete embutido em muitas coisas, mas não gosto de lembrar disso cada vez que faço uma compra! É broxante! E as vendedoras, ai ai ai. Odeio os dois extremos: a indiferença e a intimidade forçada.
🙂
Parabéns pelo site, é muito legal. Não sou apaixonada por moda, mas você consegue encantar mesmo quem não se identifica tanto com o assunto.
que texto bom!!!
Gente, a boa notícia é que tempos depois eu voltei à loja (sim eu sou escrava das coisas bonitas, e ainda voltei a comprar la kkkk) e a gerente me disse que essa política bizarra de não poder provar mudou. Agora eles podem tirar as coisas da vitrine, mesmo que seja o último do universo 😉
hahahaha
FAIL pra FARM (eh eu digo logo que pe FARM) que não deixou você levar o vestidón. 😛
Mas você tava linda e abalante no lançamento da Salto Agulha tá!!!!!! o/
bjooooooooooooooo
adorei a historia de amor entre os dois, se fosse rapha ficaria com ciumes kkkkk
A do reeeiii
Parabéns pelo texto! Traduziu mto bem a indignação que sentimos qndo não priorizam o cliente, e sim a marca. Ora, o cliente deveria sair satisfeito da loja, enão indignado…
(…)Mas aí posso estar fantasiando, já que acabei de me dar conta de que os shoppings são caixas de concreto com ar refrigerado, e nenhuma brisa corre ali. Mas ok, me deixem romantizar o momento(…)
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Mas o melhor mesmo é o dialeto das vendedoras… ahahaahahha
E sua amiga de infancia, Flávia Freire, ainda estava lá… linda e morena!
hehehehe 🙂
Parabéns, Gladis: texto, atitude, lição de vida.
Do que serve uma bela donna bem vestida sem a alma colorida?!
Beijos
Muito legal o texto, Gládis! Adorei. Parabéns!
Esqueci de dizer: adoro seus adjetivos, metáforas, perífrases e afins. E, claro, seu senso de humor!
Adorei o texto.
Infelizmente, tb aconteceu comigo.
A Farm é conhecida em todo o Brasil pelo péssimo atendimento. Acredito q mto mais pessoas passaram p esta situação.
Bjos.
[…] de certo/errado, ou use isso/não use aquilo. Os textos serão mais ou menos no estilo deste aqui, que escrevi para a revista e gerou o convite para uma coluna […]
[…] de certo/errado, ou use isso/não use aquilo. Os textos serão mais ou menos no estilo deste aqui, que escrevi para a revista e gerou o convite para uma coluna […]
Bonita, adorei o texto. Realmente sufoco… lembra um pouco do que passamos esses dias… rs
E essa Loja aí, já fez isso comigo há pouco tempo… se for a que estou pensando tb.
Um beijo, Gladis!
Hipertensão 2012, lá vamos nós! rá
Aff Gladis..
sua escrita é certeira e tocante!
a cada post q eu leio,mais eu curto
Ganhou uma fã =)
ridícula essa vendedora..pena q a loja é tão foda..
merecia funcionárias com mais capacidade..tsc tsc