O amor nos tempos do Instagram*

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*Texto originalmente publicado na Revista Versailles #19. Mais uma vez inspirado em “causos” da vida real. O texto passado rendeu muita polêmica (MAMILOS!) e até fight nos comentários. Vamos ver se dessa vez a paz reina no blog ou alguém aparece para se sentir ofendida pela noiva que inspirou a coluna 😀 

O amor nos tempos do Instagram

Quase não acreditei quando ouvi a história, mas dia desses uma noiva não aguentou esperar o fim da cerimônia para mostrar nas redes sociais que estava casando de fato. Ainda no altar, sacou um iPhone 4s (com capinha de renda branca pra combinar com o vestido) e disparou: “Padre, sorria! O senhor está no Instagram”. O coitado do padre, alheio às novas tecnologias, deve ter imaginado que Instagram é uma espécie de ante-sala do inferno. Um novo apelido para o purgatório.

É o casamento nos tempos das mídias sociais, quando tudo tem que ser compartilhado “em tempo real”. E o real da frase refere-se a “realmente inapropriado”.

É maravilhoso o mundo de novas possibilidades que as redes sociais nos proporcionam. Poder mostrar para a sua prima que está morando fora do país como está sendo a sua festa aqui no Brasil. Mandar foto da sua entrada na igreja para aquela amiga de infância, que mora longe e não conseguiu folga no trabalho para vir à sua festa. Tudo isso é impagável e deve mesmo ser aproveitado. Mas o ímpeto de fotografar tudo e jogar na internet deve ser controlado. Interromper uma cerimônia para isso não é lá muito elegante.

Outras mudanças de comportamento observadas na “Geração Instagram” são mais surpreendentes ainda. No tempo da vida off line, o vestido da noiva era um mistério guardado a sete chaves. Ninguém podia ver nadinha do modelo até a hora da entrada triunfal da moça na igreja. Hoje, na ânsia de mostrar tudo que estão fazendo, as noivas já quebram metade do suspense com as fotos postadas na internet.

Tem noiva que, dividida entre preservar a surpresa e mostrar tudo que está fazendo, resolve postar apenas partes do vestido. Um decote com filtro Earlybird, a saia do vestido com a moldura bonitinha Nashville, um detalhe da renda do modelito com fundo desfocado… No final você pode imprimir as fotos do Instagram da noiva e montar o quebra-cabeças do look. Não adiantou de nada postar o vestido em parcelas. Todo mundo viu, do mesmo jeito.

A vida 100% on line é a nova religião. E o Instagram é a nova oração na mesa das pessoas. Ninguém mexe no prato antes de postar a foto, hein! No dia que a rede social ficou fora do ar, milhares de pessoa passaram fome. Elas simplesmente não conseguiam comer sem ter onde exibir a foto do prato embelezado pelos filtros que deixam até miojo com cara de comida fina.

Quando alguém que eu sigo no Instagram vai a uma festa de casamento então, eu sempre acabo sabendo todos os detalhes do buffet. Desnecesário? Eu acho. Mas eu sou old school e ainda acho um charme gente que consegue guardar um pouco de mistério de si mesma num tempo de tanta superexposição.

 

 

Comentários

Comentários

14 Comments

  1. Milena says:

    concordo em gênero, número e grau 😉

  2. Aline says:

    Já tive que ficar esperando (o café esfriar) até uma amiga terminar de bater a foto do dia no estilo “o que estou comendo”. O pior é que não é só bater a foto, tem que compor o look da mesa, ver qual café fica melhor em qual ângulo e ao lado de qual sobremesa… haja paciência.

    Ainda bem que casei em tempos pré-Instagram. Vai que alguém bate a foto do vestido e o noivo vê. Nem pensar…hehehe

  3. Ana Carolina Tavares says:

    Muito apropriado o texto. Nada me é tão desinteressante quanto esse mundinho cyber!

  4. Ticiano says:

    Agradeçam que não uso Instagram. Tenho mó orgulho dos meus cocôs.

  5. Eliane says:

    Adorei o texto, infelizmente vivemos numa época onde não basta ter, tem que mostrar ao mundo todo o que você tem, o que veste, come e afins. Beijo!

  6. Micheline says:

    Ótimo texto, Gladis.
    Como diria um amigo meu, tudo demais é muito.
    Beijos.

  7. Inelba says:

    concordo em tudo com Eliane!

  8. Michelle says:

    Ufa… Pensei que fosse a única que se sentia como um peixe fora d’água, por não compactuar com essa exacerbação do culto a imagem! Ao ter e mostrar ao invés do ser.

  9. Carolina Vasconcelos says:

    Texto MARAVILHOSO! Parabéns!

  10. Gleice says:

    concordo em tudo!

  11. André Parra says:

    Acho que muitas pessoas estão mais preocupadas na vida social virtual do que na vida real, acho totalmente deselegante esse comportamento, uma falta de consideração para aqueles que estão ali dividindo aquele momento “na real”.

    Parabéns pelo texto!

    PS. Atualize o “Provador Masculino”, o mundo macho-jurubeba (citando Xico Sá) carece de dicas de uniforme e cuidados. Para um solteirão como eu, a opinião feminida é sempre muito bem vinda! rsrsrs

    Bjs

  12. Debby says:

    Excelente texto, Gladis. Em tempos de redes sociais, as pessoas acabam estimulando mais a ideia de viver de aparências. Um texto assim deve ser compartilhado, quanto mais, melhor!
    😉

  13. LIVIA says:

    Materia perfeita!!!
    Adorei o texto, tambem nao gosto de superexposicao.

  14. anderson says:

    Concordo com Ticiano, mas os africanos sentem muita inveja de quem usa o Instagram! #FODAVIU

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